domingo, 11 de março de 2012

Rituais



"Na primavera de 1945, os americanos ergueram na Nova Guiné, região ao redor da Holândia, um acampamento de base. Aviões aterrissavam, ininterruptamente, trazendo reforços para a Guerra no Pacífico.(...)"

Esse parágrafo acima é do livro "Será que eu estava errado", do suíço Erich von Däniken e é o início de um capítulo onde se pode ler a transformação de norte-americanos em guerra em deuses. Papuas, isolados por centenas de anos, na ilha, não compreendiam por que aqueles brancos armados até os dentes possuíam tanto cargo (mercadoria). No mínimo eles estavam fazendo algo errado e partiram para a imitação, criando um culto-cargo:

"Culto a Carga (culto-cargo) é um grupo de movimentos religiosos que aparece em sociedades tribais quando entram em contato com a civilização ocidental, industrializada."

Os papuas construíram – com bambu e cipó – amplas instalações semelhantes às dos norte-americanos, com torres de rádio, torre de comando, armazéns e até mesmo aviões, que ficavam dispostos ao redor de uma imensa clareira aberta na mata, a guisa de pista de pouso. Realizavam ali rituais, clamando aos espíritos que abasteciam aos soldados que também os provesse de cargo.

Esse é apenas um mínimo exemplo de ritual em busca de recompensa. Da mesma forma, existem rituais de adoração, perdão, salvação ou, mais básicos, por uma boa colheita, pela chuva, pela saúde. Rituais são nada mais, nada menos, que a expressão máxima da consciência primitiva humana, onde buscasse em um "Ser Maior" aquilo que não conquista-se no dia a dia. Outros tipos de rituais, como a posse de um novo presidente ou a comemoração de uma data mesmo que simbólica somente a uma única Nação existem em profusão, mantendo o homem sob as rédeas da memória cultural de seu local de origem, de suas raízes.

Rituais são necessários? A partir do momento que sua prática aproxima um povo em torno de um ideal, obviamente que sim. Seja para a credibilidade de uma Igreja poderosa como a católica ou para a satisfação de inspiradas vontades xamânicas;  sem rituais, perde-se o contato com o cru da natureza que nos cerca e com o tal primitivo instinto de busca. A História, como um todo, baseia-se na escrita – cuja função inicial era totalmente ritualística.

Porém, no reverso da mesma medalha, existe a típica alienação causada pelos próprios ritos. A imutabilidade de conceitos dentro dos ritos favorece a inércia que tira do homem o princípio evolutivo, castrando o livre-arbítrio em função à submissão de preceitos ultrapassados a tempos. Neste caso específico, tome como exemplo as doutrinas que pregam a submissão de vontades àqueles que tomam para si o papel de guardiões da verdade, como se fosse possível submeter Verdades às páginas de um livro.

Nenhum grupo social sobreviverá sem ritos próprios, por serem eles, como dito antes, laços primitivos. Porém não deveríamos quebrar esses laços, ampliando os círculos de consciência dos grupos à humanidade, como uma enorme e única Fraternidade?  Não seria mais fácil desempenhar certas funções sem a dependências de preceitos engessados por títulos como Papa, Codificador, Iman?

O caminhar dos homens leva à evolução, desde que o livre-arbítrio os conduza a um ponto de convergência que satisfaça as necessidades de crença, de caridade, de irmandade! Deixemos de lado visões obtusas e nos concentremos naqueles que nos cercam e que estejam ao alcance de nossas possibilidades, materiais e espirituais. Se for necessário um estalo de dedos, um sinal da cruz ou a prostração de joelhos, que se faça, desde que no íntimo de cada um essa seja uma noção clara da vontade própria e não do mando externo. 

Sejamos livres para manifestar nossa Natureza, e não a de outrem. Respeitar sim os velhos ensinamentos, mas nunca deixar morrer de fome a necessidade de evoluir.

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