"Na primavera de
1945, os americanos ergueram na Nova Guiné, região ao redor da Holândia, um
acampamento de base. Aviões aterrissavam, ininterruptamente, trazendo reforços
para a Guerra no Pacífico.(...)"
Esse parágrafo acima é do livro "Será que eu estava
errado", do suíço Erich von Däniken e é o início de um capítulo onde se
pode ler a transformação de norte-americanos em guerra em deuses. Papuas,
isolados por centenas de anos, na ilha, não compreendiam por que aqueles
brancos armados até os dentes possuíam tanto cargo (mercadoria). No mínimo eles estavam fazendo algo errado e
partiram para a imitação, criando um culto-cargo:
"Culto a Carga (culto-cargo)
é um grupo de movimentos religiosos que aparece em sociedades tribais quando
entram em contato com a civilização ocidental, industrializada."
Os papuas construíram – com bambu e cipó – amplas instalações
semelhantes às dos norte-americanos, com torres de rádio, torre de comando,
armazéns e até mesmo aviões, que ficavam dispostos ao redor de uma imensa
clareira aberta na mata, a guisa de pista de pouso. Realizavam ali rituais,
clamando aos espíritos que abasteciam aos soldados que também os provesse de
cargo.
Esse é apenas um mínimo exemplo de ritual em busca de
recompensa. Da mesma forma, existem rituais de adoração, perdão, salvação ou,
mais básicos, por uma boa colheita, pela chuva, pela saúde. Rituais são nada
mais, nada menos, que a expressão máxima da consciência primitiva humana, onde
buscasse em um "Ser Maior" aquilo que não conquista-se no dia a dia.
Outros tipos de rituais, como a posse de um novo presidente ou a comemoração de
uma data mesmo que simbólica somente a uma única Nação existem em profusão, mantendo
o homem sob as rédeas da memória cultural de seu local de origem, de suas
raízes.
Rituais são necessários? A partir do momento que sua prática
aproxima um povo em torno de um ideal, obviamente que sim. Seja para a
credibilidade de uma Igreja poderosa como a católica ou para a satisfação de
inspiradas vontades xamânicas; sem
rituais, perde-se o contato com o cru da natureza que nos cerca e com o tal
primitivo instinto de busca. A História, como um todo, baseia-se na escrita –
cuja função inicial era totalmente ritualística.
Porém, no reverso da mesma medalha, existe a típica
alienação causada pelos próprios ritos. A imutabilidade de conceitos dentro dos
ritos favorece a inércia que tira do homem o princípio evolutivo, castrando o
livre-arbítrio em função à submissão de preceitos ultrapassados a tempos. Neste
caso específico, tome como exemplo as doutrinas que pregam a submissão de
vontades àqueles que tomam para si o papel de guardiões da verdade, como se
fosse possível submeter Verdades às páginas de um livro.
Nenhum grupo social sobreviverá sem ritos próprios, por
serem eles, como dito antes, laços primitivos. Porém não deveríamos quebrar
esses laços, ampliando os círculos de consciência dos grupos à humanidade, como
uma enorme e única Fraternidade? Não
seria mais fácil desempenhar certas funções sem a dependências de preceitos
engessados por títulos como Papa, Codificador, Iman?
O caminhar dos homens leva à evolução, desde que o
livre-arbítrio os conduza a um ponto de convergência que satisfaça as necessidades
de crença, de caridade, de irmandade! Deixemos de lado visões obtusas e nos
concentremos naqueles que nos cercam e que estejam ao alcance de nossas
possibilidades, materiais e espirituais. Se for necessário um estalo de dedos,
um sinal da cruz ou a prostração de joelhos, que se faça, desde que no íntimo
de cada um essa seja uma noção clara da vontade própria e não do mando externo.
Sejamos livres para manifestar nossa Natureza, e não a de outrem. Respeitar sim
os velhos ensinamentos, mas nunca deixar morrer de fome a necessidade de
evoluir.
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